Uma cidade que leva o mar no nome. Paraty, na língua dos Guainás, povo originário da região, significa "alagado", "pequeno golfo" ou "jazida do mar" — uma definição precisa para esta cidade moldada pelas águas.  Mas não é só pelo nome que escolhemos levar a segunda edição do FASA para Paraty. É também pelo fato de que esta cidade tem a água em suas veias e em sua alma. Nas vias do Centro Histórico, o calçamento inclinado e canalizado, recebe as águas das marés nas viradas das luas cheia e nova, que fluem naturalmente pelas pedras “pé-de-moleque” lavando a cidade. Um gesto da natureza que se transformou no símbolo que dá nome a essa edição do FASA no município, afinal Paraty é, literalmente, o reflexo das marés.

 

Essa coreografia entre o mar e a cidade não é só paisagem — é também memória, identidade e estrutura econômica. Por séculos, Paraty foi o principal porto da Estrada Real. Ouro das Minas Gerais descia a serra até embarcar rumo ao mundo, e em troca chegavam novidades, influências e diversidade. Até a construção da rodovia Rio-Santos, em meados do século XX, Paraty só era acessível por via marítima ou trilhas de tropeiros. O mar, mais do que caminho, era seu elo com o mundo.

 

Mas as águas também moviam a terra. Rios como o Perequê-Açu alimentavam os engenhos de cana com suas rodas d’água, impulsionando a produção de cachaça — um dos ciclos econômicos mais marcantes da cidade. Os alambiques ainda estão ali, como testemunhas de um tempo em que a água era força motriz, alimento e rito.

 

Hoje, Paraty preserva esse patrimônio com vigor: das festas tradicionais como a Procissão do Divino às manifestações da cultura caiçara, quilombola e indígena que mantêm viva a sabedoria das águas. Cada rua, cada pedra, cada porto carrega séculos de encontros entre rios, marés, barcos e histórias.

 

É nesse território que o FASA – Festival de Artes e Saberes das Águas — lança sua âncora. Paraty não apenas acolhe o FASA: ela o inspira. Porque aqui, mais do que em qualquer outro lugar, entendemos que a água é linguagem, espelho e raiz. E que celebrar os saberes das águas é, também, celebrar a própria essência de Paraty.